Meia-Boca Futebol Clube

Porque como diria Nelson Rodrigues: "Só jogador mediocre faz futebol de primeira"

27.3.10

O popular e o futebol

Ora, os fatos não falam por si, é preciso ter uma teoria para interpretá-los. Eis a teoria do Post:

O popular é a manifestação física do inconsciente de todos nós, homens castrados pelos facões civilizacionais. Ele não só se emputece com o casal Nardoni, ele dá o passo que nós, paraplégicos cristãos, não nos permitimos: a vingança. Tacam pedras, hostilizam verbalmente e, se não fossem contidos pelas forças policiais de repressão, fariam Isabella Nardoni do Casal Nardoni.

O popular tem uma função social sagrada: mostra a importância das conquistas civilizacionais de repressão e recalque; se todo mundo fosse popular, não haveria mundo para caber todo mundo, haveria caos para não conter ninguém, estado natural Hobbesiano. A colaboração mais importante é fazer o que nós, neuróticos infelizes, só desejamos, apaziguando o seu, o meu, o nosso Dourado inconsciente. Logo, taxo incontestavelmente - e, se alguém ousar me contestar, convocarei populares para persegui-lo - que o popular é mais importante do que qualquer analista, com o plus de não cobrar, e mais relevante do que qualquer encíclica papal, com o plus de não esfregar a ameaça do inferno e sofrimentos eternos na cara dos pecadores.

O popular se manifesta em vários momentos. Indignação nacional, crimes hediondos, acidentes grotescos de carro, pulando atrás de câmeras em shoppings, aglomerados na praia de copacabana no final do ano...O popular inspira desgraça e expira vingança. Mas o que nos interessa, blog de futebol, é o popular e a bola.

O popular chuta carros de jogadores preguiçosos, impedindo que uma horda de torcedores não só chute, como quebre o carro inteiro, puxe o jogador e a família e os destroçem em praça pública.

O popular vai até o CT, reclama, xinga todo mundo, pixa muro e dá satisfação ao Dourado de milhões de torcedores: olha, sente-se em seu sofá, homem de bem, o popular já resolveu.

Agora, não digo que o popular deva ser louvado. Quando é, adeus civilização, oi homo homini lupus. Vamos só olhar para os populares, rejeitá-los explicitamente, lamentar suas ações, mas sem esquecermos que, no fundo, aquele ali que tá em cima do carro da polícia gritando assassinos, queimem os dois, é também você. O popular é um herói maldito.

Homem civilizado, de bem, rompa o véu e contemple seu inconfessável!

Paz e fui.

1 Bolas pro Mato:

  • At 12:29 AM, Blogger Deia said…

    isso era pra ser sobre futebol, mas as suas intervenções que vem com lições metodológicas e avaliações civilizatórias são sempre bem-vindas. Aliás, o que é expressão do popular senão o futebol, também...

     

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