Meia-Boca Futebol Clube

Porque como diria Nelson Rodrigues: "Só jogador mediocre faz futebol de primeira"

21.4.10

Todos os corações do mundo: memórias da minha primeira Copa.

Minha primeira Copa do Mundo foi a do tetra, no distante 1994. Eu tinha 9 anos de idade, ainda não tinha um time do coração e minha relação com futebol se resumia aos esporádicos jogos que eu via na televisão com meu irmão e meu pai. Daí, Copa do mundo. Tudo muito colorido, gente colocando bandeirinha na rua, nomes que começam a ficar comuns na sua vida - Parreira, Zagallo, Romário -, um movimento que definitivamente vai tomar conta de uma criança. Brindes da Copa no Sucrilhos, no Danoninho, na Coca-Cola, álbuns, os meninos jogando bafo com as figurinhas no recreio... Isso era uma Copa do Mundo. Só umas emoções bobas, mas que são capazes de marcar uma criança, toda uma infância. Pra quem sempre gostou de geografia, como eu, era uma festa: achar os países, descobrir bobagens tipo cores, bandeiras, capitais. Além do inglês, que eu começava a aprender, e a copa nos EUA. Tudo fazia muito sentido; o caminho para amar futebol estava traçado.
Toda essa onda de recordações veio por conta do filme oficial da copa de 1994 que eu, por acaso, acabei vendo em uma madrugada aleatória na TV à cabo, o clássico "Todos os Corações do Mundo". No começo, a sensação foi de estranhamento: um choque estético, que misturava uma certa familiaridade com aqueles bonés enormes de abas retas e camisas multicoloridas que pareciam de qualidade totalmente duvidosa e uma repulsa natural àquelas combinações bizarras de tamanho e estilos. Mas depois do estranhamento, veio o reconhecimento: ei, é A COPA de 1994! E voltam algumas memórias gostosas daquele ano, onde a vida ainda tinha alguma inocência - mesmo considerando as más recordações, o momento serve pra separar justamente esses elementos ruins das coisas boas na memória, componentes de um mesmo todo, mas que nos afetam de formas diferentes.
Como o documentário repassa jogo por jogo, cada partida era como uma nova onda de sensações que tomava conta de mim: a primeira fase, e o time entrando de mãos dadas no primeiro jogo, contra a Rússia; o segundo jogo, contra Camarões, e todo o fuss sobre o Roger Milla; e a Suécia, com um Larsson bizarro de dreads. As demais fases, com os jogos eliminatórios, já mobiliza mais lembranças: Brasil e EUA, pra começar, e o bom-moço Leonardo quebrando o osso do pobre jogador americano; o jogo contra a Holanda, com a sapatada do Branco, que hoje está mais roliço que a bola - veja só, o tempo, tempo... e a semi-final contra aquele time lindo da Suécia, jogando de azul, outra surpresa, descobrir o uniforme B. E a final, que nem vi direito porque era tanta bagunça, tanta gente, tanto barulho! Só lembro da gravata ridícula do Pelé, e do Galvão Bueno - outra constante das minhas Copas - se esguelando. Além do Baggio isolando a bola, claro.
Afinal, sou de uma geração que começou as suas Copas acostumada com a vitória, mas com a vitória estilo 1994 - desacreditada, deslocada, estranha. Confiar na seleção nunca fez parte do pacote, e gostar de futebol torna a coisa ainda mais difícil, porque a paixão pelo jogo às vezes vence. Por exemplo, hoje, Brasil e Portugal.
Afinal, eu fiz toda essa digressão apenas para poder dizer, sem maiores perigos, que o jogo foi tão ruim quanto já se esperava que fosse. Não necessariamente porque temos um time que continua desacreditado - e vai continuar até ganhar a copa, seja agora ou na próxima ou na outra... -, mas porque, na minha opinião, nós aprendemos a gostar do jogo, um passo além do coração da torcida, a emoção de jogar bem -não necessariamente bonito, bonito é outra coisa! Lúcio, que é um luxo!, é a prova de que não é preciso jogar bonito pra jogar bem. A evolução do nosso capita atual mostra que o trabalho árduo leva à excelência: ele passou tanto tempo subindo da zaga pra armação, quando não pro ataque, que paramos de gritar "fica, lúcio!", pra em jogos como os de hoje torcemos pra ele subir e armar alguma coisa, porque os meias, que teriam que fazer essa função - não sei se alguém lembrou de avisar a eles, né - esqueceram desse detalhe!
O jogo de hoje já era uma promessa de jogo de comadres, um zero a zero cantado, sem nenhum pingo de emoção, e isso só reforça a descrença-confiante do brasileiro médio que acompanha pelo menos a série A do Brasileirão. Ceará e Vasco na última rodada no Brasileirão foi mais jogado do que essa partida.

#prontofalei

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