Meia-Boca Futebol Clube

Porque como diria Nelson Rodrigues: "Só jogador mediocre faz futebol de primeira"

27.4.10

Prêmio "Agora vai!"

Copa do Mundo é uma coisa fantástica, disso estamos carecas de saber. É um evento global, um evento democrático, uma oportunidade de ver o melhor e o mais inusitado no desporte. Disputa-se desde cifras milionárias oferecidas pelas grande corporações até módicos barris de rum e variantes - ah, saudoso Trinidad e Tobago! Ou seja: é um evento em que se espreme o suco e aproveita-se até o bagaço.

A Fifa fica escolhendo melhor jogador, dream team, etc; quando TODO MUNDO sabe que o prêmio mais legal é o que acompanharemos com mais afinco: o Prêmio "Agora vai!". É um prêmio concedido àquele jogador que não foi bem cotado antes do torneio, não foi o melhor, não estava na melhor equipe, não foi o mais promissor, não foi o campeão; mas que de alguma forma deu uma tumultuada no torneio e virou especulação na janela de transferência seguintes. Algo como "Como ninguém viu essa jóia antes?!" Daí que algum europeu mediano pagou uma fortuna no camarada e... era bijouteria e não deu em nada. Porque uma característica marcante do "Agora vai" é sua validade de uma Copa do Mundo. Se ganhar algo de importante depois, o título é automaticamente suspenso.

O patrono do prêmio "Agora vai!" é o camaronês Roger Milla. Sim, comeu a bola em 90, comemorava com danças muito mais divertidas que a dos meninos da vila. Mas o que fez além de enterrar a carreira do Higuita? Teve sucesso no futebol francês, mas vamos combinar que futebol francês é pouco para um camarada que fez acontecer na Copa do Mundo, não é mesmo? É uma característica do prêmio "Agora vai!". Ele te promete um filé mignon, mas o ônus dele é o eterno coxão duro.

Vamos lembrar dos vencedores de edições anteriores:

1994 - Aseed Al-Owairan


Ou o Maradona das Arábias, se você preferir. É enciclopedicamente famoso por esse gol contra a Bélgica em 94. Depois nunca mais fez nada digno de destaque no futebol. Mas merece destaque. Ser o prêmio "Agora vai!" da Copa mais alternativa da história é um feito e tanto.

Menções honrosas: Hagi - Romênia (sim, gênio, mas só decidia jogar MESMO em ano de Copa) e Salenko (foi o artilheiro com 6 gols, mas marcou cinco contra um eliminado Camarões de ressaca. O Valência acreditou...)

1998 - Mustapha Hadji


Marrocos só não se classificaram naquele ano porque o Júnior Baiano não quis, mas o time deles surpreendeu. E o mais virtuoso atleta era Hadji. O Coventry City pagou para ver a aposta de 27 anos e... foi isso. Jogou também no Aston Villa e atualmente joga no prestigioso futebol de Luxemburgo.

2002 - El Hadji Diouf


Liderou a equipe de Senegal que eliminou a então campeã França e alcançou as quartas de final do torneio. Desejado por diversas equipes européias, acabou no Liverpool por dez milhões de libras e ficou muito aquém do esperado. De ex-promessa mundial, atualmente defende o Blackburn Roovers, atual décimo segundo colocado da Premier League.


2006 - Paulo Wanchope


Olha, 2006 não teve lá muitas surpresas; mas pra manter o padrão de meia-boca terceiro mundista, vamos apelar pro Wanchope. Seu efeito agora-vai só durou um jogo, quando marcou dois pela Costa Rica contra a Alemanha na estréia do último mundial. Mas todo mundo que vê esses embates como representações pós modernas de David e Golias teve uma esperança momentânea em Wanchope. Só durou aquela partida e tivemos de transferir nossas esperanças para Trinidad e Tobago e sua saga pelos barris de rum.

Menção honrosa: Luca Toni (precisa explicar? Obrigado).

Quem levará o "Agora vai!" desse mundial? Copa na África é um cenário propício pra isso. E não nos esqueçamos que teremos Nova Zelândia e Coréia do Norte. Aguardemos! Peace out!

22.4.10

rs

21.4.10

Todos os corações do mundo: memórias da minha primeira Copa.

Minha primeira Copa do Mundo foi a do tetra, no distante 1994. Eu tinha 9 anos de idade, ainda não tinha um time do coração e minha relação com futebol se resumia aos esporádicos jogos que eu via na televisão com meu irmão e meu pai. Daí, Copa do mundo. Tudo muito colorido, gente colocando bandeirinha na rua, nomes que começam a ficar comuns na sua vida - Parreira, Zagallo, Romário -, um movimento que definitivamente vai tomar conta de uma criança. Brindes da Copa no Sucrilhos, no Danoninho, na Coca-Cola, álbuns, os meninos jogando bafo com as figurinhas no recreio... Isso era uma Copa do Mundo. Só umas emoções bobas, mas que são capazes de marcar uma criança, toda uma infância. Pra quem sempre gostou de geografia, como eu, era uma festa: achar os países, descobrir bobagens tipo cores, bandeiras, capitais. Além do inglês, que eu começava a aprender, e a copa nos EUA. Tudo fazia muito sentido; o caminho para amar futebol estava traçado.
Toda essa onda de recordações veio por conta do filme oficial da copa de 1994 que eu, por acaso, acabei vendo em uma madrugada aleatória na TV à cabo, o clássico "Todos os Corações do Mundo". No começo, a sensação foi de estranhamento: um choque estético, que misturava uma certa familiaridade com aqueles bonés enormes de abas retas e camisas multicoloridas que pareciam de qualidade totalmente duvidosa e uma repulsa natural àquelas combinações bizarras de tamanho e estilos. Mas depois do estranhamento, veio o reconhecimento: ei, é A COPA de 1994! E voltam algumas memórias gostosas daquele ano, onde a vida ainda tinha alguma inocência - mesmo considerando as más recordações, o momento serve pra separar justamente esses elementos ruins das coisas boas na memória, componentes de um mesmo todo, mas que nos afetam de formas diferentes.
Como o documentário repassa jogo por jogo, cada partida era como uma nova onda de sensações que tomava conta de mim: a primeira fase, e o time entrando de mãos dadas no primeiro jogo, contra a Rússia; o segundo jogo, contra Camarões, e todo o fuss sobre o Roger Milla; e a Suécia, com um Larsson bizarro de dreads. As demais fases, com os jogos eliminatórios, já mobiliza mais lembranças: Brasil e EUA, pra começar, e o bom-moço Leonardo quebrando o osso do pobre jogador americano; o jogo contra a Holanda, com a sapatada do Branco, que hoje está mais roliço que a bola - veja só, o tempo, tempo... e a semi-final contra aquele time lindo da Suécia, jogando de azul, outra surpresa, descobrir o uniforme B. E a final, que nem vi direito porque era tanta bagunça, tanta gente, tanto barulho! Só lembro da gravata ridícula do Pelé, e do Galvão Bueno - outra constante das minhas Copas - se esguelando. Além do Baggio isolando a bola, claro.
Afinal, sou de uma geração que começou as suas Copas acostumada com a vitória, mas com a vitória estilo 1994 - desacreditada, deslocada, estranha. Confiar na seleção nunca fez parte do pacote, e gostar de futebol torna a coisa ainda mais difícil, porque a paixão pelo jogo às vezes vence. Por exemplo, hoje, Brasil e Portugal.
Afinal, eu fiz toda essa digressão apenas para poder dizer, sem maiores perigos, que o jogo foi tão ruim quanto já se esperava que fosse. Não necessariamente porque temos um time que continua desacreditado - e vai continuar até ganhar a copa, seja agora ou na próxima ou na outra... -, mas porque, na minha opinião, nós aprendemos a gostar do jogo, um passo além do coração da torcida, a emoção de jogar bem -não necessariamente bonito, bonito é outra coisa! Lúcio, que é um luxo!, é a prova de que não é preciso jogar bonito pra jogar bem. A evolução do nosso capita atual mostra que o trabalho árduo leva à excelência: ele passou tanto tempo subindo da zaga pra armação, quando não pro ataque, que paramos de gritar "fica, lúcio!", pra em jogos como os de hoje torcemos pra ele subir e armar alguma coisa, porque os meias, que teriam que fazer essa função - não sei se alguém lembrou de avisar a eles, né - esqueceram desse detalhe!
O jogo de hoje já era uma promessa de jogo de comadres, um zero a zero cantado, sem nenhum pingo de emoção, e isso só reforça a descrença-confiante do brasileiro médio que acompanha pelo menos a série A do Brasileirão. Ceará e Vasco na última rodada no Brasileirão foi mais jogado do que essa partida.

#prontofalei

15.4.10

Brasil na Copa - II

Vou fundar o clube de defensores do Dunga. Estou longe de simpatizar com o sujeito, mas tão enchendo o saco demais. Ainda faltam dois meses pra convocação e essa história de grupo fechado não vende jornal. Sempre tem um jornalista pentelho perguntando se o filho do vizinho não merece ter uma chance com a amarelinha.

A bola da vez é o Neymar. Sim, tá jogando bola pra caralho, tem tudo pra ser um jogador de classe mundial. Mas ainda tem só dezoito anos. Na Copa que vem, ainda vai ter só vinte e dois. Seria Neymar realmente tão indispensável num time que não tem carência de jogador nessa posição? - lembremos-nos, temos "só" Nilmar e Robinho pra posição dele.

"Ah, mas futebol é momento! Tem que chamar os que estão em alta!". Beleza, então vai barrar o Kaká? Vai jogar todo planejamento de quatro anos pela janela? - que, por mais que não seja o planejamento dos nossos sonhos, é um planejamento. Pessoal parece que não se lembra do caos de 2001, quando Brasil perdeu uma Copa América pra Honduras e chegou na última rodada das eliminatórias precisando fazer pontos. Felipão foi arrumar o meio campo com Gilberto Silva, Kléberson e Edmílson - repita os nomes e reflita - e se viu obrigado a apostar em um Ronaldo pós-lesão absolutamente imprevisível. No mais, a equipe só foi engrenar ao longo da competição - queria poder saber quanto que a bolsa de Londres tava pagando no começo da Copa. Por mais que não gostemos do time do Dunga, não podemos negar que é uma equipe competitiva.

"Ah, mas já levaram jogadores jovens antes e deu certo! Pelé, Ronaldo, Kaká...". Pra começar, toda vez que você cita o Pelé como exemplo, seu argumento se torna imediatamente inválido. O Homem não serve para parâmetros. Quanto aos outros dois... Vamos lembrar quais eram as outras opções? Em 94, Parreira testou Careca em fim de carreira, Evair, Palhinha - reflita outra vez - e se viu obrigado a convocar Romário pra salvar a lavoura. Ou seja, a safra não era das melhores - só lembrar que o outro atacante reserva acabou sendo o Viola. Nesse caso, faz sentido você chamar uma jovem promessa. Por mais inexperiente que seja, a outra opção não era necessariamente mais funcional. Vale a aposta.

Em 2002? Mesma coisa. A vaga de reserva ficou com Juninho Paulista, sendo que foram testados Sávio, Marques, Euller, entre outros - reflita mais uma vez. Quando nem os titulares são unanimidade absoluta, faz sentido em apostar em uma jovem promessa em um bom momento. Mas eu não vejo espaço para isso no grupo do Dunga. Vai barrar quem pra colocar o Neymar? Robinho, que é o homem de confiança do treinador? Nilmar, que quando exigido correspondeu? Adriano, que tem suas problemáticas pessoais, mas nem da mesma posição é?

Logo, repito - e, pelo visto, serei repetitivo pelos próximos dois meses: o grupo está fechado. Se eu acho isso bom? Não necessariamente. Mas é menos ruim do que precisar apelar pro Kléberson do momento e fazer figa pra dar certo. Neymar tem tudo pra ser craque e tem pelo menos mais três Copas pela frente. Não temos motivos para colocar o carro na frente dos bois.

4.4.10

Um post inútil se faz com: São Paulo, água com gás e uma obscenidade.


Não tenho nada contra o futebol medroso, desde que quem o pratique seja o Gama. Quando é o Gamão contra o Tricolor, jogar atrás para o Gama não é medo, é realismo, e o futebol medroso vira o futebol natural, como a água que cai da parede inclinada. Agora, quando quem fica o jogo inteiro atrás do meio é o São Paulo, sem ousar um ataque, sem ter a coragem de tocar a bola, melhor é dar chutão para afastar de uma vez, aí é de indignar. Aí é como pegar o impulso natural e transformá-lo em algo bizarro, artificial, não é mais a água da chuva que cai da parede inclinada, é a água retirada dos rios, tratada, engarrafada, vendida e COM GÁS.

Horrível, desprezível, ninguém entende como algumas pessoas gostam, muito mais difícil entender como outros vendem e insistem em vender. A água com gás anterior, a vendida por Muricy, se irritava, se não era natural, tinha, pelo menos, grife. Ganhava alguns prêmios aqui e ali, mesmo com todo mundo sabendo que não era tanto pela qualidade daquela água, era mais pela falta de qualidade das outras. Agora a nossa Água com Gás deixou de ser fabricada pela Coca, é fabricada pela Schincariol. A propaganda que faz de si mesma é ridícula, não vai ganhar prêmio de qualidade em lugar algum, irrita o consumidor e, se há razão no ser humano, irritará em breve um homem que odeia água de qualquer tipo, grande apreciador de Whisky, e o covardão do Ricardo Gomes vai vender água com gás no caralho que o gozou!