Meia-Boca Futebol Clube

Porque como diria Nelson Rodrigues: "Só jogador mediocre faz futebol de primeira"

30.1.10

Só faltam 100!


Já cometemos o erro de não enviarmos ninguém para cobrir o evento. Imperdoável, ainda mais depois da homenagem que recebemos. Mas cá estou para salvar o espírito do blog. Aliás, promessa: Estaremos lá no 950, estaremos lá no 1000...Tá bom, não quero comprometer ninguém: estarei lá no 950, estarei lá no 1000. Penso até em cobrir toda a jornada até o 1000, mas concordo que é bom escutar opiniões de mentes mais sensatas e menos ociosas antes de me decidir. O meia-boca finalmente encontrou o seu herói! Cantemos seus feitos, é a nossa chance de eternidade.

Faça mais 100 para a gente ver, Maravilha!


29.1.10

Robinho

Sim, o camarada joga muito. Sim, acredito que ele vá sobrar nos campos brasileiros. Mas eu queria dar pitaco mesmo é sobre o tudo mais que envolve. Gastos, objetivos e o já conhecido temperamento pouco aprazível do gajo.

Pense como torcedor. Seu time tava numa draga e de repente aparece um molecote magricela que fez chover. Aí o seu time ganha de forma surpreendente e avassaladora; e esse molecote pinta como, senão o maior - tem uns malucos aí que preferem o Giovanni, vai entender -, o mais vitorioso ídolo do time desde... sim, Pelé. É demais para um coração torcedor, não é mesmo?

Aí pinta uma proposta da Europa e a diretoria do seu time recusa, por entender que seu maior craque valia mais do que determinado valor. E o que o seu craque faz? Greve. Diz que quer sair porque tinha potencial para ser o melhor do mundo e só o poderia ser no Real Madrid. Cruza os braços e o clube acha melhor capitalizar.

Quatro anos depois, o craque volta. Foi discreto no Real Madrid - pra onde tanto quis ir e de onde também saiu pela porta dos fundos -, Foi discreto no Manchester City - para onde foi "por acidente", queria mesmo ir pro Chelsea de Felipão - e agora, resolve voltar para o clube que o revelou após outra saída tumultuada.

Mas analisemos friamente. Voltou por que? Porque é ano de Copa. Sua outrora intocável vaga na seleção começou a ficar ameçada por Nilmar, Alexandre Pato, Ronaldinho, entre outros. E os regressos de Ronaldo, Fred e Adriano provaram que o baixo nível técnico do futebol nacional viabiliza grande destaque para jogadores desse porte. E sem precisar se rebaixar às folhas salariais mais humildes.

Robinho virá ganhando um milhão de reais por mês. Só achei os dados de 2008, ano em que não houve o regresso de nenhum "world class", e temos na classificação final: São Paulo com folha de 2,3 mi/mes, Grêmio com 850 mil/mês e Cruzeiro com 1,5 mi/mes. Robinho vai ganhar mais do que o Grêmio de 2008. E deve ganhar pouco mesmo do que a folha do Santos atual.

Dinheiro pra isso acaba surgindo, vide Ronaldo. Mas pense no camarada que recebe vinte vezes menos. O camarada vai correr porque é profissional, vai dar o sangue; não questiono. Mas na hora do vamos ver, vai levar a culpa toda? Nada, deixa que o "milhãozinho" se vira. E vão alegar que não tem nada disso, mas sejamos sinceros. Você não se incomodaria, por melhor profissional que fosse seu colega? Se fizer chover, é engolir em seco e pensar no coletivo. Mas e se não fizer? Complica.

E aí voltamos: Robinho voltou pra que mesmo? Pensando na Copa. Então o planejamento do clube fica em plano acessório, concorda? Santos vai correr Campeonato Paulista e Copa do Brasil. Vai que o time cai, sei lá... nas quartas de final. Você imagina aquele Robinho do Manchester City com ânimo pra encarar algumas horas de ônibus até Itápolis pra enfrentar o Oeste? Ou vai dar aquele migué de "a África do Sul é logo ali, tenho que me preservar..."?

Então, recapitulando. O maior ídolo recente, que saiu em litígio pra lá de condenável, volta pra ficar seis meses, custando os olhos da cara e com 95% de seus pensamentos em objetivos pessoais. Vale a aposta ou tem potencial pra se tornar um elefante branco? Dá tempo de compensar o retorno em marketing ou vai ficar o Santos na saudade? Robinho só irá bater ponto no CT ou reviverá seus melhores momentos e voltará para Europa sob súplicas de "Fica, Robinho!"?

Tantas perguntas, não é mesmo? E como em cima do muro que sou, não vou responder nada. Peace out!

15.1.10

Efeito Petkovic

Não é só o mundo da moda que vive de tendência. A falta de organização e planejamento no futebol brasileiro faz com que, vez por outra, determinados episódios repercutam em diretorias por todo Brasil mais ou menos como: "E como é que eu nunca tinha pensado nisso?!".

Exemplo que eu quero dar: Santos de 2002. Diego e Robinho lideraram o time da Vila para o topo da tabela quando mal haviam atingidos suas respectivas maioridades. Qual foi a grande tendência para a temporada de 2003? Vamos todos investir na base! A salvação da lavoura está logo ali! E tome uma molecada imatura/meia boca bombando por aí. Quer só uns exemplos São paulinos? Fábio Santos e Júlio Santos. Que Leonel deixe sua opinião sobre os dois.

Por que o Santos de 2002 deu certo? Eu sei lá, porque sim; porque aquela foi uma geração "iluminada", mas isso tá longe de ser regra. . Investir na molecada, a priori, é sinal de que não existe verba pra arcar com um planejamento mais sério. De dezenas que tiveram de apelar pra esse recurso, só o Santos deu certo. Mas em 2003 não era assim que se pensava. Deu certo com o Santos, por que não daria certo em outras cercanias? Era simplesmente ÓBVIO.

Aí teve o Flamengo do ano passado, né? E a nova agora é o Petkovic. Esse que nada fazia há anos entrou na equipe do Flamengo e fez boas exibições, liderando o Flamengo para o título. Qual a tendência agora? Vamos investir nos veteranos! Dodô , El Loco Abreu, Sávio, Giovanni, Marcelinho Paraíba estão incumbidos de liderar seus respectivos escretes ao sucesso - isso porque eu nem citei a casa de repouso que o Corinthians pretende botar em campo.

É claro que ninguém lembra que junto com o Petkovic tinha um atacante de classe mundial e nomes menos expressivo, como Maldonado e Álvaro, que chegaram no meio da temporada e foram fundamentais para o bom funcionamento da equipe. A galera só pensa: "aquele sérvio jogou bola, né? Era isso que tava faltando, um toque de experiência, de maturidade!" e assim caminha o futebol brasileiro. Nessa seriedade.

Mas como diz Sério Reis, panela velha é que faz comida boa. Longe de mim afirmar que todo veterano será um retumbante fracasso. Desejo que todos possam fazer boas apresentações, mas acho que vai ter muito clube aí comprando o Clint Eastwood de Gran Torino e querendo que ele atue com a jovialidade do ator em Três Homens em Conflito. Esperar que um camarada de 35 anos tenha o mesmo desempenho físico/técnico de quando tinha dez anos a menos é no minimo muito arriscado. No dia em que só maturidade ganhar jogo, a seleção de masters será o novo Cosmos.

(Eu ia finalizar algo envolvendo "qualidade", "rugas" e "saco", mas prefiro zelar pela moral nesse nobre espaço internético. Peace out!)

9.1.10

Mais uma noite quente em Buenos Aires

Faz um calor infernal nessa cidade no verão. Tipo, um calor abafado como uma cidade de praia, mas sem o elemento principal, que é a praia. Assim, o dry-fit das camisetas de futebol vem bem a calhar, e o brasileiro está tão dominante nessas terras do rio da prata que se sente à vontade o suficiente para desfilar pelo tradicional (e perigoso) bairro de La Boca com camisas de diversos times brasileiros sem maiores constrangimentos em relação ao fato de que se trata do bairro do Boca Junior, o time mais famoso da Argentina.

É uma região maltratada da cidade, desorganizada, mas que tem um charme turístico muito peculiar: as famosas casinhas coloridas que enfeitam as principais (duas ou três) vielas logo ao lado do antigo porto de Buenos Aires, de ruas estreitas e movimento intenso de turistas. De toda forma, a localização periférica reforça o elemento popular que é tão característico do Boca. Ele é praticamente o corinthians local (e tinha até as mesmas cores que o Corinthians antes do conflito pela mudança das cores do time) e tem mais ou menos a mesma fama que o time brasileiro por aqui: uma equipe mais popular e que tem a massa dos seus torcedores em camadas mais desfavorecidas da população, enquanto o River pode ser associado ao São Paulo, um time mais elitizado e com mais estrutura, além de usar também quase as mesmas referências de cores do São Paulo.

As semelhanças param ai, começando pelo fato do Boca ter um estádio, aliás, não só um estádio, mas sim um ponto turístico na cidade de Buenos Aires. A maioria dos gringos, atraídos pela idéia de maradona de antigamente vendida no exterior, e pela própria estrutura absolutamente esquisita do lugar, visita o estádio do Boca (que merecerá, futuramente, um post próprio) para ver a estátua do infeliz que fica na entrada do museu e os feitos do atacante realizados na equipe. Eles vendem seus jogadores muito bem, aliás: tem fitas com os melhores momentos do Riquelme, Palermo, Maradona, claro, e vários outros infelizes que não vou conseguir me lembrar por agora, mas que estão, igualmente, inscritos na calçada da fama ao longo da entrada principal do museu. Vendem tudo, as libertadores, as cores, a fama do bairro, tudo junto com o time... E andam vendendo só pra gringo mesmo, e namoradas de brasileiros desinformadas, que não sabem que os dois principais times argentinos não conseguiram se classificar para a Libertadores desse ano (que pelo nível de mediocridade deve até dar alguma chance pros times brasileiros). Fiquei impressionada em saber, hoje, que a camisa do Boca é mais cara que a da Argentina, oficial, uns 100 pesos mais cara, mesmo nesse período de transição de uniformes. Por isso, só vejo estrangeiros com a blusa do time: os portenhos não usam a camisa do Boca, você vê muito mais "nativos" usando a blusa do River.

Por mais que a época não seja favorável para o futebol na américa latina, já que estamos ainda em pré-temporada também aqui na Argentina, sinto um fenômeno de desfutibolização no país, congruente com a frustação política e econômica. E então os brasileiros, como eu já disse, aproveitam, e esnobam, sem medo, seus times pelo caminito afora. Por mais que eu tenha certeza que meus dois amigos de blog certamente não abririam mão de usarem suas camisas do SPFC na visita ao Caminito, já apostando também que eles jamais iriam ao museu do Boca (onde eu aliás fiz questão de não passar da porta), acredito que em outros tempos essa naturalidade não seria possível. Nada mais aqui parece impor respeito, nem mesmo os feitos do passado. Tudo virou lembrancinha de turista.

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6.1.10

Correspondente Internacional

Deia na Argentina, parte 1

Sim, estou na terra de Maradona e Lionel Messi, onde o peso vale a metade do real e onde você pode encontrar a maior colônia brasileira fora do Brasil na atualidade. Em cada esquina você pode encontrar um brasileiro com uma blusa da argentina ou do boca, que custam aqui o equivalente a, não sei, duas havaianas no supermercado, ou uma noite de cervejas com os amigos. A rivalidade não parece tão latente quando os imperativos econômicos se sobrepõem. De toda forma, Maradona ainda está em toda parte, muito mais do que o recentemente laureado Messi, o que já mostra muito sobre a relação saudosista dos argentinos com futebol, que pelo visto tem muito mais relação com o autoritarismo dos anos 70 do que no Brasil. Também resultado de quadros econômicos e políticos distintos em ambos os países, essa relação com a memória futebolística. No todo, acho que a discussão sobre futebol não está tão latente aqui, as piadinhas com o Maradona não surtem efeitos imediatos, e não se nota nenhuma empolgação com, como eu já disse, o Messi ou a Copa do Mundo. O que terá acontecido com os argentinos? Será que a crise afetou o espírito futebolístico dessa nação gaúcha? Pretendo colher material para essa análise futuramente, aqui, diretamente de Buenos Aires para o MBFC.