Meia-Boca Futebol Clube

Porque como diria Nelson Rodrigues: "Só jogador mediocre faz futebol de primeira"

31.3.10

Maldito, Maldito Arsenal.

Diz Nick Hornby que o Arsenal das décadas de 60, 70 e 80 era carinhosamente apelidado pelos rivais de "Ugly, Ugly Arsenal". Aliás, as melhores partes de "Fever Pitch" são as racionalizações trágicas da consciência crítica de um viciado que não consegue se livrar da merda insuportável que o escraviza. Os últimos três anos tricolores me colocaram em situação parecida, mas eis assunto que prefiro ignorar.

Contextualizemos para chocar: ingleses acostumados com o futebol mais sem graça e feio do planeta, tutores de Muricy Ramalho, achavam o Arsenal o time mais chato da Inglaterra. O futebol do Arsenal seria a cara do Amaral, a Joseane, a Dercy Gonçalves eterna, o reflexo que diariamente contesta as ilusões do meu ego.

Eis que o mundo é dinâmico, os anos 90 chegaram, trouxeram bizarrices como Mc Martelo, Sir Mexe Deveras e perturbações várias. Em contrapartida e quase como pedido de desculpas, a década nos deu o Arsenal do Wenger, futebol bonito, pra frente e agradando Trajanos e Callazans. Mas os deuses do futebol vendem quando dão. Compra-se a glória com desgraça. Sendo direto: o preço do futebol bonito é sobrenatural.

O Arsenal pode ser um dos grandes exemplos contemporâneos de futebol arte, romântico e qualquer outro adjetivo Callazans, mas mexe com as convicções dos racionalistas mais obtusos da terra.

Meu caso. Eu me julgo racionalista, um cético muitas vezes tão chato quanto Dawkins, tão caricato quanto Padre Quevedo, mas os constantes músculos distentidos e os recorrentes ossos quebrados do Arsenal são provas empíricas suficientes para abalar meu positivismo ingênuo. É, bobão - canta o coro composto pela perna dividida em duas de Eduardo, a canela estraçalhada de Ramsey e a lesão de Fábregas que ri na cara de qualquer idéia de felicidade definitiva - há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a sua vã filosofia.

Bruxaria pode NON EXCZISTIR!, desafio em rede nacional todos os terreiros brasileiros a trabalhar contra a minha integridade física, É MENTIRA, É MENTIRA!, Deus pode ser reedição pouco original dos argumentos de Freud por Dawkins, mas o Arsenal, ah, o Arsenal é maldito. Maldito, Maldito Arsenal.

29.3.10

Até o Diabo escreveu relatório com severas restrições.

Há muito tempo, muito tempo atrás, há tanto tempo que nem o tempo existia, uma coisa que chamaremos de Coisa teve uma idéia. Era tudo tão chato, pensava . Tão sem graça, tão silencioso. Não existia mundo, o vazio circundava o nada por todos os lados, nenhuma festa divertida, nenhum filme bom passando no cinema, enfim, o tempo antes do tempo era uma eterna Brasília.

Aí a Coisa decidiu agitar. Criou o homem, e viu que o homem era bom, animado. Mas era tão sozinho, coitado. Não fazia nada, ficava só brincando com seu próprio corpo, se é que os menos puritanos me entendem, com as árvores, com os pássaros, com a grama. A Coisa queria mais ação. E aí decidiu fazer a mulher, e viu que era boa. Juntos, mulher e homem davam festas de arrasar. Agitaram o pedaço, mas de agitados que estavam, de tão empolgados que ficaram, acabaram esquecendo que eram sombra e pó, criações irrelevantes, e acharam mais legal beber e falar merda em mesa de bar do que louvar a Coisa.

Ah, mas a Coisa ficou brava. Puta mesmo. Criara tudo aquilo para sua diversão, não para a diversão de uma parte ínfima da criação. E teve a idéia mais cruel, mais apavorante que qualquer mente já concebeu, um martírio tão doloroso e cruel que até o Diabo escreveu relatório com sérias restrições. Pouco se fudendo para o Diabo, a Coisa criou o futebol, o Corinthians, o São Paulo, Danilo, o ano de 2010, o gol no último lance de jogo e riu da minha cara, da sua e de todo mundo. FIM.

27.3.10

O popular e o futebol

Ora, os fatos não falam por si, é preciso ter uma teoria para interpretá-los. Eis a teoria do Post:

O popular é a manifestação física do inconsciente de todos nós, homens castrados pelos facões civilizacionais. Ele não só se emputece com o casal Nardoni, ele dá o passo que nós, paraplégicos cristãos, não nos permitimos: a vingança. Tacam pedras, hostilizam verbalmente e, se não fossem contidos pelas forças policiais de repressão, fariam Isabella Nardoni do Casal Nardoni.

O popular tem uma função social sagrada: mostra a importância das conquistas civilizacionais de repressão e recalque; se todo mundo fosse popular, não haveria mundo para caber todo mundo, haveria caos para não conter ninguém, estado natural Hobbesiano. A colaboração mais importante é fazer o que nós, neuróticos infelizes, só desejamos, apaziguando o seu, o meu, o nosso Dourado inconsciente. Logo, taxo incontestavelmente - e, se alguém ousar me contestar, convocarei populares para persegui-lo - que o popular é mais importante do que qualquer analista, com o plus de não cobrar, e mais relevante do que qualquer encíclica papal, com o plus de não esfregar a ameaça do inferno e sofrimentos eternos na cara dos pecadores.

O popular se manifesta em vários momentos. Indignação nacional, crimes hediondos, acidentes grotescos de carro, pulando atrás de câmeras em shoppings, aglomerados na praia de copacabana no final do ano...O popular inspira desgraça e expira vingança. Mas o que nos interessa, blog de futebol, é o popular e a bola.

O popular chuta carros de jogadores preguiçosos, impedindo que uma horda de torcedores não só chute, como quebre o carro inteiro, puxe o jogador e a família e os destroçem em praça pública.

O popular vai até o CT, reclama, xinga todo mundo, pixa muro e dá satisfação ao Dourado de milhões de torcedores: olha, sente-se em seu sofá, homem de bem, o popular já resolveu.

Agora, não digo que o popular deva ser louvado. Quando é, adeus civilização, oi homo homini lupus. Vamos só olhar para os populares, rejeitá-los explicitamente, lamentar suas ações, mas sem esquecermos que, no fundo, aquele ali que tá em cima do carro da polícia gritando assassinos, queimem os dois, é também você. O popular é um herói maldito.

Homem civilizado, de bem, rompa o véu e contemple seu inconfessável!

Paz e fui.

19.3.10

David Beckham e e má vontade

Eu acompanho muito mais futebol brasileiro do que o europeu. Longe de mim bancar o Callazans e dizer que só tem perna de pau do outro lado do oceano. Mas tem uma meia dúzia que não me ajuda. Quando eu paro pra assistir algum jogo europeu só por conta da badalação, a galera simplesmente some. O mais recente deles é o Ibrahimovic. Mas o clássico mesmo é o Beckham.

Nunca vi uma partida dele que me fizesse dizer um "UAU!" Mas todo mundo só fala do Becks. O camarada é boa pinta, casou com a spice girl, ganhou uma penca de títulos com aquele Manchester noventista. Mas a badalação sempre foi muito mais em torno do efeito midiático do que da bola em si. Tem um bom passe, pega muito bem na bola; mas que mais? No dia em que Peter Crouch não acerta voleios e que Joe Cole não cava faltas na entrada da área, Inglaterra joga com menos um. - pelo menos se eu estiver assistindo!

Aì o camarada me lesiona e dizem que vai ser uma grande perda. Sério mesmo? Midiática? Certamente. Mas a melhor geração inglesa desde 1966 - zzzzzz - não vai ser tão prejudicada assim. Porque tá o camarada ali enganando na ala direita há três copas do mundo e o mais notável que ele fez foi ser expulso em 98.

Resumindo. Meus sentimentos pela lesão do gajo, mas certeza que os patrocinadores lamentam muito mais que os amantes da bola. Continuo achando que Jorge Wagner é mais efetivo, só teve o azar de nascer feioso. É isso aí: David Beckham, um Jorge Wagner com grife!